De um passado tão presente.

Nuvens negras de um passado,
cada vez menos presente,
fazem-se sentir sobre a minha alma,
embora muito pouco casualmente.

Voltam as tormentosas noites,
sem sono.
Dias em que te foste,
e, por cá fiquei, sem trono.

Mono, que nem um calhau,
pensava que tudo era mau.
Podre de só.
Mas mais valeu só do que mal acompanhado.

Depois quando a tempestade passa,
Parece tudo repor-se,
nada mais me massa,
mas até aqui chegar…

Difícil?
Mais do que isso,
Quando tu lutas contra ti mesmo,
impossível é os outros chegarem a ti.

Tanta solidão,
Tanto desinteresse por os outros,
Dariam lugar ao ódio,
à podridão dos meus dias.

Quando por graça do divino recuperei,
Senti-me fresco,
grande e cheio de vontade,
de provar, provar que afinal não sou como vocês dizem.

Sou como sou,
e muito melhor do que vocês dizem.
Convencido,
foi o que me chamaram por querer ser Eu.

Na vossa cabeça
(oca),
eu seria um pequeno ser rastejante,
talvez um Platelminte, que vos parasitava esse cérebro minúsculo.

Taenia solium, quem sabe.
Quando no real, eram vocês que me parasitavam as vísceras,
desde o coração, ao fígado, baço, pulmões.
Todo um metabolismo incoerente era suscitado.

Hoje chamo-vos acidentes de percurso a alguns,
amigos a outros.
Muitos deram na vida airada, para não ser indiscreto.
Nenhum de vós é um génio, são todos, intelectualmente, reduzidos a saber ler e escrever.

(Só espero que saibam ler)

Referências aos anjos de hoje,
estou farto, sem me fartar, de fazer.
Fizeram:
a água cristalina,
o céu azul com nuvens brancas,
o vento brando,
o fogo a minha fonte de vida, da minha glória.